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05 agosto 2005

Entrevista com Larry Augustin, CEO da MedSphere e fundador do SourceForge.net

Nessa quarta-feira (03/08/2005) tivemos a oportunidade de ter uma breve conversa com Larry Augustin, CEO da Medsphere, membro do conselho de diretores da VA Software, e uma das mais famosas personalidades do mundo de código aberto. Em 1993, ele fundou a VA Software, criando o SourceForge.net, o maior repositório de projetos de código aberto da Internet, e a versão comercial SourceForge Enterprise Edition. Além dessas atividades, ele faz parte do Azure Capital Partners como um parceiro de capital de risco, investindo em empresas de tecnologia No mundo de software livre, a sua participação é notada em diversos projetos, como o Open Source Development Labs (OSDL), Linux International e o Free Standards Group, JBoss e SugarCRM. RC: O que faz a MedSphere? LA: A MedSphere provê um software para hospitais chamado VistA, juntamente com serviços de suporte para esse software. RC: Quais são as funcionalidades do VistA? LA: Ele provê o registro do paciente, evitando qualquer tipo de formulários em papel que normalmente são utilizados em hospitais. Dessa forma, em uma consulta, o médico terá o registro do paciente eletronicamente. Caso precise de um exame, como raio-X, ou um remédio na farmácia do hospital, tudo será eletrônico. RC: Vocês têm planos de fazer uma integração maior, como de todos os hospitais e farmácias e outras unidades de saúde de uma cidade, de tal modo que tudo seja eletrônico? LA: Esse plano ainda é muito ambicioso, temos um longo caminho até lá, mas nada nos impede. RC: O software ou as suas interfaces são de código aberto, possibilitando eventuais integrações com concorrentes ou outros software no futuro? LA: Sim, o nosso produto tem duas versões, uma de código aberto, baseada em um software desenvolvido inicialmente pelo governo americano, e outra versão profissional, com componentes mais avançados e com código fechado, que é vendida. A razão do software ser aberto é pelo fato de ele ter sido financiado pelo povo americano. Continuaremos a mantê-lo aberto e melhorá-lo. RC: Como é o modelo de negócios? De onde vem a receita da MedSphere? LA: Além da licença de software para a versão profissional, o modelo de negócios envolve instalação, treinamento, suporte e desenvolvimento de customizações para o software. RC: Qual é o mercado alvo principal da MedSphere? LA: O nosso mercado-alvo são pequenos e médios hospitais que, como os grandes, possuem necessidades de maior organização e gerenciamento dos seus registros e procedimentos médicos. Eles têm as mesmas necessidades, mas não tem a capacidade de adquirir sistemas existentes, com custos exorbitantes. Esse é o mercado principal que queremos atingir. RC: Existe planos de levar o Medsphere para países como o Brasil? LA: Sim, temos já algumas parcerias em alguns países e, em se tratando do Brasil, também já possuímos o plano de implementar em um hospital. RC: Conte-nos um pouco sobre as suas recentes atividades profissionais. LA: Antes de me unir ao MedSphere, eu me juntei a um grupo de investidores de capital de risco chamada Azure para investimento em empresas de tecnologia. RC: Como você vê a evolução dos modelos de negócio de código aberto, em particular tendo em vista o recente surgimento de empresas como a SpikeSource, Source Labs, Pentaho, muitas das quais não eram conhecidas no ano passado? LA: O que temos notado mais recentemente nos modelos de negócio de software proprietário é que o custo de vendas e marketing tem sido enorme e é o maior custo em uma empresa de software. Com o custo cada vez mais elevado para se vender, em face da existência de nova concorrência, que é o próprio software de código aberto, a receita obtida com a venda de licenças tem sido basicamente para cobrir os custos de vendas e marketing. Esse aspecto é curioso, pois chegamos à situação em que o cliente paga um determinado valor, usualmente grande, para ser convencido a comprar. Irônico, não? Dessa forma, o modelo de código aberto surge e é visto hoje como sendo a maneira de se reduzir, total ou parcialmente, esses custos, e a empresa de tecnologia focar os seus custos exatamente em tecnologia. Assim, todos ganham, pois o custo é diminuído para a empresa e para o cliente, que não paga mais para ser convencido a comprar. O cliente é convencido a comprar ao testar o produto na sua versão de código aberto. E a vantagem é que ele avalia o sistema muito mais profundamente antes de optar por ele. Além disso, pode ter contato com o seu desenvolvimento, problemas, opiniões, um contato muito maior e real com a qualidade do produto. A empresa de tecnologia também ganha pois o seu produto tem a capacidade de ser conhecido (sem o custo total inerente disso), inclusive em mercados onde a empresa não tem presença, como usualmente o mercado internacional. RC: Você acha que as aplicações de código aberto têm o poder de dar o respaldo a iniciativas governamentais como a do Brasil, onde computadores populares saem de fábrica com o Linux? Isso nos parece muito complicado em países onde a pirataria é dominante, logo o apelo de custo de licença não é muito forte para usuários finais. LA: Primeiro, deveria se parar de piratear o software. Em segundo lugar, o problema não é exatamente com o conjunto de funcionalidades, mas sim com a base instalada. Eu, particularmente, acho que a Microsoft está fazendo um tremendo erro ao não portar o Office para Linux. Ela está abrindo a possibilidade do OpenOffice tornar-se dominante nesse mercado e, dado que ele é multi-plataforma, isso pode se tornar um grande perigo no futuro. RC: Qual seria o tipo de finalidade para a qual sistemas operacionais de código aberto, como o Linux, estariam prontos? LA: Para finalidades específicas, eu vejo como ele estando pronto e não fazendo nenhuma diferença. Por exemplo, para a implementação do nosso software, onde o computador cliente tem a finalidade bastante específica de rodar somente o nosso software - e isso se aplica para qualquer outro - o Linux pode inclusive trazer imensas vantagens.