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25 abril 2007

Web 2.0

Com exceção dos personagens do Big Brother, nenhum outro assunto é tão falado na Internet de hoje quanto o termo Web 2.0. Mas afinal, o que é Web 2.0?

Em 2004 uma equipe da O’Reilly Media cunhou o termo Web 2.0 para definir a evolução da Web. A Web é a combinação da Internet e suas tecnologias e os modelos de negócios que são criados sobre as mesmas.

Com o advento da Internet empresas e indivíduos foram capazes de se interligarem. Essa foi a Web 1.0. Mas o grande poder da Internet não está somente na capacidade de conexão, mas sim, na de colaboração tecnológica e social.

Daí nasce o conceito de software social, ou seja, a capacidade das pessoas se reunirem, interligarem e colaborarem através de meios de comunicação via computador formando comunidades online. Nasce a Web 2.0. Wikis, blogs, foruns, chats, tagging, RSS, instant messengers e outros tantos termos servem como base para a Web 2.0.

O “2.0” indica que uma evolução da Web conforme estamos acostumados. Na verdade a Web é um organismo que nunca para de evoluir. Muitas das tecnologias acima existem desde o nascimento da Internet, mas somente agora começam a ter uso em escala.

Mais importante do que as tecnologias envolvidas está a participação dos usuários (ou sociedade) na construção da Web 2.0. Se a Web 1.0 foi construída por engenheiros, designers e financistas, a Web 2.0 está sendo construída pela sociedade, pois o grande “pulo do gato” está em um fenônemos social que abraça a abordagem de geração e distribuição de conteúdo, caracterizadas pela comunicação aberta, decentralização, liberdade de compartilhar e reutilizar e grande geração de dados e informações pelos usuários.

Uma outra forma (ou será a mesma vista de outro ponto?) de definir a Web 2.0 é o que chamamos de Web Semântica, ou seja, a capacidade de associar significado aos bilhões de documentos existentes na mesma de acordo com o contexto do usuário, através de tags, wikis, referências cruzadas e redes como FOAF e XFN. Complicado? Nem tanto. Imagine que você buscou na Internet a palavra “Paris”. Dependendo do seu contexto você pode classificar os resultados dessa busca como “cidade luz”, “europa”, “must see in Europe” e por aí vai. Outras pessoas ao fazerem buscas por “europa”, “must see in Europe” ou “cidade luz” irão receber como resultado, entre outros, “Paris”. Viu?

Mas outro usuário poderá classificar alguns resultados como “socialite”, “herdeira milionária”, “celebridade”, etc. Qual a diferença? A diferença é que na primeira a contextualização da palavra “Paris” é referente à famosa cidade francesa e na segunda à Paris Hilton, herdeira dos hotéis Hilton. Depois é só compartilhar seus tags via serviços como o del.icio.us. Isso é o que chamamos de folksonomy.

Em Setembro de 2005, Tim O'Reilly escreveu um documento sumarizando que seu grupo queria dizer com Web 2.0. E por mais que outras definições tenham aparecido (todo mundo queria tirar proveito), essa é a que vale oficialmente, apesar de Tim admitir que não há “uma versão oficial da Web 2.0”. E é nela que baseio os princípios-chave da Web 2.0, que são:

A Web como plataforma de aplicações;

  • Dados como a força motriz;
  • Clientes criam seus produtos;
  • Network Effect;
  • SaaS, Software as a Service;
  • Cooperação ao invés de controle;

    A Web como plataforma de aplicações

    Quando da sua fundação, a Sun Microsystems, uma das mais importantes (se não a mais) empresas na história da Internet cunhou o slogan “The Network is the Computer”, ou seja, a rede é o computador. E isso foi nos anos 80 antes da Internet comercial.

    Nunca isso foi tão verdade. Talvez o princípio mais importante da Web 2.0 é que as aplicações da mesma só fazem sentido em um mundo totalmente interligado. Veja o Google por exemplo. Não há sentido o buscador Google existir se não houvesse uma rede gigantesca de computadores interligados gerando dados que necessitam ser organizados a cada segundo. No fundo o Google é uma aplicação rodando na rede. A rede é seu computador.

    A Web é uma poderosa plataforma para a criação de aplicações inovadoras que mudam nossa forma de fazer negócios (vide AdWords do Google), interagir socialmente (vide Orkut, também do Google, e Second Life), recebermos informação (e-mails, RSS, blogs, wikis) e nos divertirmos (YouTube e Joost), portanto deve ser cuidadosamente estudada e aproveitada na criação de novas aplicações ou mesmo na adaptação das existentes.

    Dados como força-motriz

    Uma vez que as pessoas estejam interligadas e usando a rede como seu computador elas fatalmente irão gerar dados. Bilhões deles. Por segundo. E aí reside a grande moeda da wikinomia (termo criado por Don Tapscott em seu novo livro Wikinomics), a economia da integração e colaboração via a Web.

    Empresas como Google vivem de organizar e apresentar dados. Não há um simples aplicativo do Google que não seja capaz de armazenar dados em seus gigantescos datacenters espalhados pelo mundo, pois dados são valiosíssimos e é exatamente isso que o Google deseja, se apoderar das informações do mundo, reorganizá-las e depois vendê-las em diversas formas.

    Na era Web 1.0 o mais importante era a aplicação, o programa, o site. Na era Web 2.0 o mais importante são os dados. Por isso vemos as aplicações sendo distribuidas gratuitamente desde que os dados gerados pelas mesmas fiquem em poder de quem detém os direitos sobre essas aplicações.

    Clientes criam seus produtos

    Com o uso da Web como plataforma um efeito colateral é criado: a capacidade de seus usuários ou clientes criarem seus próprios produtos ou ajudarem sua empresa a criar os seus. E a geração da colaboração em massa.

    Em março de 2000, Rob McEwen, CEO da GoldCorp, uma mineradora canadense que atravessava uma período turbulento, decidiu fazer uma coisa inusitada. Sem dinheiro para ampliar sua equipe de geólogos, sem condições de analisar todas as regiões possíveis de serem exploradas e principalmente sem ter muito tempo para inverter os resultados financeiros que estavam abaixo das expectativas, ele decidiu após participar de um treinamento no MIT para jovens presidentes, que a GoldCorp iria juntar todos os dados geológicos acumulados desde 1948 e compartilhar com o mundo. Depois ele iria pedir a quem quer que tivesse acesso aos dados, opiniões de onde e como grandes jazidas poderiam ser exploradas.

    Sua idéia foi baseada no modelo de software aberto, levado às massas por um jovem finlandês, chamado Linus Torvalds, o criador do Linux. Linus angariou durante um periodo de mais de 10 anos, milhares de colaboradores que ampliaram sua idéia de criar um sistema operacional que fosse poderoso e aberto ao mesmo tempo. Hoje o Linux tem a liderança do mercado mundial de servidores, segundo dados diversos institutos de pesquisa.

    McEwen pensou: “Por que não usar o mesmo conceito para tentar criar a próxima grande oportunidade para a GoldCorp?”. Mineração é fortemente baseada na análise de dados geológicos e portando factível de colaboração. McEwen aplicou os principais conceitos da Web 2.0 (web como plataforma e dados como forç-motriz) para revolucionar seu negócio.

    Em semanas após o lançamento de um concurso de daria US$ 575 mil em prêmios, a GoldCorp rercebeu milhares de sugestões do mundo inteiro, de renomados geologistas a estudantes, passando por clientes atuais. Eles foram capazes de identificar 110 localidades suscetíveis a exploração (50% a mais que a própria equipe da GoldCorp), com um índice de 80% de aproveitamento, ou seja, 80% das 110 localidades poderiam ser efetivamente exploradas com altos índices de retorno.

    A abordagem da GoldCorp demonstra que a capacidade de aglutinar dados e interessados para produzir novos mercados e produtos está apenas no seu início e pode gerar grandes economias e ganhos.

    Network Effect

    Network Effect ou efeito rede é a capacidade que um serviço ou produto tem de ficar melhor conforme mais pessoas o utilizam, ou seja, quanto mais pessoas usam o produto, melhor ele fica. Um exemplo disso são os sites de sugestões de compras. Quanto mais pessoas o acesso e dão opiniões, melhor essas sugestões ficam.

    Criar produtos e serviços que fiquem melhor quanto mais são usados não é uma coisa fácil, mas deve estar na cabeça de qualquer um pensando em usufruir das benesses da Web 2.0.

    Talvez o exemplo mais claro do Efeito Rede seja o Google (ele novamente). Quanto mais pessoas criam sites e buscam informações sobre o mesmo, melhor os sistemas de organização do Google, pois o mesmo é diretamente proporcional a quantiade de sites existentes e sua interrelação.

    SaaS, Software as a Service

    Já que a Web é a nossa plataforma no mundo Web 2.0, por que devemos ter nossas aplicações e dados armazenados em apenas nossos computadores, tão vítimas de ataques e limitados ao nosso espaço físico? Por que não podemos ter nossas aplicações e dados na Internet e acessá-los de onde quisermos, quando quisermos?

    É exatamente isso que prega o modelo de software como serviço (SaaS). Ao invés das aplicações estarem em nossos computadores, elas estarão na rede (lembre-se, “The Network is the Computer”), bastando um browser para poderem ser acessadas. Alguém pode dizer, “mas isso é o famigerado modelo ASP, Application Service Provider?”. Sim, mas agora funciona!

    Cooperação ao invés de controle

    Talvez o mais etéreo conceito da Web 2.0 seja esse: cooperação ao invés de controle. Mas o que isso significa? Em primeiro lugar vivemos em uma sociedade onde o poder é definido pelo controle, ou seja, que controla tem o poder.

    Na webconomia o controle se dá através da cooperação, ou seja, quando mais você coopera, mais controle você exerce. Não é um conceito fácil de entender no papel, mas na prática ele opera milagres.

    Vide o caso do Linux, mais uma vez. Nessa comunidade a capacidade de influenciar e decidir está diretamente relacionada a quantidade de código fornecido e compartilhado com o comunidade. Ou seja, quanto mais código um programador compartilha com a comunidade, mais ele tem poder de influência e controle (afinal, influência é um tipo de controle).

    O segredo do sucesso em um mundo Web 2.0 é criar ferramentas de colaboração entre seus stakeholders e fazer com que os mesmos o municiem de dados e informações que podem ser usados como moeda de troca. Assim o controle ficará nas mãos de quem colabora mais. Confuso? Talvez por que ainda você não tenha colaborado o suficiente.

    Tente e falamos depois.

  • 24 janeiro 2006

    Mais GPL 3.0

    Por André Machado Foi dada a largada para uma nova versão da GPL - General Public License, licença que rege a maioria dos softwares livres e abertos, inclusive o GNU/Linux. Na semana passada, aconteceu no MIT (Massachusetts Institute of Technology) a Primeira Conferência Internacional sobre a versão 3 da GPL (GPLv3), que pretende publicar sua redação final, no mais tardar, em março do ano que vem. Mas já há uma primeira minuta da GPLv3 (com exposição de motivos) que ataca assuntos techie atualíssimos e, no melhor estilo da tradição do free software, está de olho no establishment , especialmente o americano. Procura reverter a tendência de cercear os direitos dos usuários de software de todas as maneiras em nome da segurança e dos lucro$. Haverá mais debates ao longo do ano e novas minutas. Aliás, a próxima conferência internacional sobre a GPLv3 tem 99,5% de chances de ser no Brasil, avisou Eben Moglen, professor de História Legal da Universidade de Columbia, conselheiro geral da Fundação do Software Livre (FSF) e o redator da GPL original. Próximo round de debates poderá ser no Brasil O Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas acompanhou in loco os debates sobre o assunto e, a pedido do GLOBO, seu coordenador, o advogado Ronaldo Lemos, analisou os pontos fortes propostos na nova GPL. Em primeiro lugar, ela está mais aberta para o mundo, buscando ganhar valor legal em outros países (originalmente, foi baseada na lei americana e por isso suas traduções tinham apenas uma finalidade didática). Além disso, procurou atualizar-se tecnologicamente, abordando temas como patentes (assunto delicadíssimo, que anda gerando bastante polêmica) e DRM (Digital Rights Management, que Richard Stallman, o outro pai da GPL e criador do sistema GNU, já rebatizou de Digital Restrictions Management). DRM é aquele recurso embutido em modernos desks e notebooks que impede o compartilhamento livre de arquivos pelo usuário, invadindo sua privacidade. — A GPL não era atualizada desde 1991 e muita coisa mudou desde então — conta Ronaldo. — Algumas cláusulas da versão anterior já estavam gerando interpretações dúbias, com as quais nem Moglen, nem Stallman concordavam. Daí o pontapé inicial na GPLv3. Mas, para o Moglen, o principal objetivo é reafirmar os princípios de liberdade do free software. O DRM é tratado na minuta com uma cláusula pesada. Ela afirma que qualquer software livre sob a GPLv3 que use DRM será obrigado a revelar todo o código-fonte do DRM para que este não afete o exercício das liberdades garantidas pela licença. Na prática, é um golpe mortal no DRM (e não deixa de ser um paradoxo). — Segundo Moglen, DRM e software livre, na verdade, são incompatíveis — diz Ronaldo. — Para a FSF, o DRM deve ser abolido, pois constitui um problema social. Tal visão também quer fazer frente às leis americanas regionais que reputam ilegal a quebra do DRM, igualando-a à violação de direito autoral. Segundo Ronaldo, já houve um programador preso só por quebrar a DRM de um e-book. Já no caso das patentes, a primeira minuta da licença diz que, se a pessoa tiver a patente de qualquer parte de um software baseado ou licenciado na GPLv3, automaticamente concederá uma licença ampla, global, irrevogável e gratuita para o uso dessa patente por todos. — Ou seja, isso anula o efeito da patente via um licenciamento automático — explica Ronaldo. — A própria GPL vira instrumento para tal. Com isso, não seria preciso pedir autorização para usar a funcionalidade patenteada, não importa quão inovadora. Além disso, pela primeira vez a FSF permitirá a inovação jurídica no âmbito da GPL. Explica-se: antes, era pegar ou largar a licença. Juridicamente, não se bulia com ela. A nova versão pode permitir que a comunidade de desenvolvedores mexa no “código jurídico” do texto, tornando-o ainda mais contundente e incisivo na área de patentes e compatibilidade com outras licenças de software. Como assim? A minuta diz o seguinte, trocando em miúdos: se você for um programador que criou uma função superinovadora ou uma killer application para a indústria, fique à vontade para atacar ainda mais as patentes — por exemplo, impedindo qualquer tipo de patenteamento em cima de sua criação. — Isso é o que se chama retaliação a patentes — diz Ronaldo. — E, com essa abertura jurídica para o desenvolvedor, inovações jurídicas podem se combinar com a inovação tecnológica para tornar essa retaliação ainda mais severa. Uma GPLv3 vitaminada. Tais medidas impedirão processos futuros na área, porque licenciam universalmente quaisquer tentativas de patentes em softwares GPLv3. Outro ponto que esquentou muito os debates ligou-se aos sistemas de processamento remoto — os sistemas que dão acesso a seus programas à distância, conforme a demanda do usuário, sem que eles precisem estar residentes no desk. — O Google já trabalha com isso, e usa ferramentas de software livre para tal. O usuário só recebe o resultado do processamento, mas o código está lá no servidor deles — diz Ronaldo. — A questão era: a GPLv3 obrigaria à abertura do código de sistemas de processamento remoto? Esse tipo de software — como o Google Desk — não é nem chamado de open-source, mas de “no-source”. Ainda assim, ele é derivado do software livre que o criou, embora tecnicamente não seja distribuído (já que permanece no servidor e é processado remotamente). Cabe aí abrir o código-fonte ou não? A resposta da FSF foi não, para não deixar o software livre de fora de uma revolução tecnológica importante. Para Ronaldo, uma decisão sábia. — Se obrigassem o Google a abrir seus algoritmos de busca só porque usam processamento remoto, imediatamente a Google recorreria a uma solução proprietária. E isso é a última coisa que a FSF deseja — diz ele. — Foi uma decisão estratégica, para evitar a marginalização do software livre. Outras licenças podem ganhar derivações GPL Quanto à internacionalização da licença, a minuta dá sinais de que finalmente vai se basear em outras jurisdições além da americana. O texto é propositalmente mais claro para se adaptar a diferentes jurisdições e buscar uma aceitação global. — Isso abre uma porta para que se aceitem traduções para outras legislações — acredita Ronaldo. Outras licenças também poderão, agora, trabalhar em conjunto com a GPLv3. Especificamente no caso de inovações específicas. Se um pedaço do software foi originalmente licenciado em BSD, ele pode continuar assim, mas é possível aplicar a GPLv3 para seus derivados, se o programador desejar. Por fim, a versão 3 da GPL dá o seu próprio grito de independência ou morte. Há uma cláusula da minuta/exposição intitulada Liberdade ou Morte que diz o seguinte: um software sob a GPLv3 TEM QUE USAR a licença na íntegra. Se algum tribunal decidir que parte das liberdades da licença não é aplicável, o texto avisa que se perderá o direito ao uso do software. Em outras palavras, liberdade não é algo fatiável. Tudo isso ainda passará pelos debates, vale frisar. Mas, no mínimo, a nova licença vai dar o que falar. A turma do Creative Commons, que oferece alternativas ao velho modelo de copyright, está atentíssima ao processo.

    21 janeiro 2006

    GPL 3.0

    Acaba de ser publicada a versão draft da GPL 3.0. Todos os interessados devem dar uma olhada, opinar e contribuir com o que deve se tornar a mais importante licença de software para os próximos anos. O draft pode ser acessado em http://gplv3.fsf.org/draft.

    Proselitismo tecnológico

    Tenho acompanhado de longe as discussões de vários movimentos sobre software livre no país. O que deveria ser algo aberto, amplo e democrático, tem se mostrado mais radical, limitado e proselitista do que recomenda o bom senso. Muitas das discussões têm girado em torno do que faz ou deixa da fazer a Microsoft, a representante maior (para os radicais do SL) do mal e do que há de pior no mundo corporativo. Ora, venhamos e convenhamos, a Microsoft não é um exemplo de puritanismo ou de como devemos fazer negócios, mas não podemos negar sua contribuição para o mundo da tecnologia. Em 1976 dois jovens tiveram um sonho: colocar um computador em cada residência. Lançaram a Microsoft um ano depois e o resto é história. E esse deveria ser o mote dos movimentos de sofware livre, 30 anos depois. Como colocar SL/CA em cada uma das residências do mundo e não ficar perdendo tempo com Microsoft. Incentivar o empreendedorismo, ajudar a viabilizar modelo de negócios lucrativos (ALLÔÔÔÔ!!! Sem modelo de negócios lucrativos as coisas não passarão de boa vontade. Ninguém com inteligência e bom senso irá investir em SL/CA) e atendimento às necessidades dos clientes/usuários. Visitei a OSCON 2005 e falei com vários ícones do open source, desde Bruce Perens até Brian Behlendorf e o ponto comum entre eles é o seguinte, software livre é um movimento inerente, quer que façamos parte dele ou não. Portanto, o melhor a fazer, é focar na direção correta e não ficar olhando para trás, afinal a Microsoft é passado, não é mesmo?

    10 agosto 2005

    HP pede para IBM e Sun mudarem para GPL

    Em keynote hoje, no LinuxWorld 2005, o vice-presidente de Linux da HP, Martin Fink, pediu para que a IBM e a Sun desistissem das suas licenças e mudassem para a GPL. Para os executivos da IBM responsáveis por essa mudança, daria laptops da HP com Linux instalados. Para os Scott McNealy e Jonathan Schwartz, ele daria laptops HP, mas com o Windows pré-instalado.

    Início da LinuxWorld 2005

    Na mesma linha de atividades da Open Source Convention, a LinuxWorld 2005 iniciou ontem com tutoriais e hoje (09/08/2005) a conferência. Com a expectativa de ter presentes muitos milhares de pessoas interessadas no Linux e no mundo, como em outros anos em que atraiu mais de 12 mil pessoas, ela será composta por sessões (45 a 75 minutos de duração), tutoriais e laboratórios práticos (duração de 3 horas), além das reuniões de birds-of-a-feather. As suas trilhas de sessões abordam os seguintes assuntos: O negócio do Linux e Código Aberto Gerenciamento de Ambientes Mistos Segurança Aplicações de Código Aberto Kernel e Cluster Tecnologias Emergentes Linux no Lado Cliente Virtualização e Data Centers Diferentemente do que possa levar a crer, o assunto na LinuxWorld não é exclusivamente o Linux, embora ele seja o tema da maior parte das palestras. Atualmente nota-se uma abertura maior para SL/CA, diferentemente da LinuxWorld 2004, que tratava mais exclusivamente do Linux. Contudo, ainda não vemos, como no OSCon mencionado acima, trilhas falando de código aberto em Java, Perl ou PHP Uma característica bastante notável da LinuxWorld é a sua natureza de exposição, sendo que teremos mais de 150 expositores, como diversas fundações e organizações, além das maiores empresas envolvidas com Linux e SL/CA, sendo a participação na exposição gratuita (desde que registrado antes do início da conferência). O fato de existir duas conferências de tal porte no mesmo período do ano como a OSCon e a LinuxWorld acaba dividindo o público, por razões como custo e disponibilidade, que poderia estar presente mais maciçamente em apenas uma delas. Por esses motivos algumas empresas estão presentes somente em um dos eventos, sendo uma maior tendência para a OSCon, dado tratar-se de um evento com uma proposta mais abrangente e que não necessariamente vincula o seu produto ou nome somente ao mundo Linux, em particular visto que muitas dessas empresas oferecem soluções que funcionam em diversas plataformas.

    05 agosto 2005

    Tersus: nova platafoma de desenvolvimento visual feita em Java

    Um dos patrocinadores e expositores da Open Source Convention 2005 foi a Tersus, uma nova empresa israelense. Tivemos a oportunidade de ter uma demonstração do novo produto deles nessa quinta-feira, dia 04/08/2005, com o fundador Joe Bar-El. O Tersus é uma plataforma de programação visual de código aberto feita completamente em Java. Ela foi criada como um plugin do Eclipse que permite ao desenvolvedor criar a sua aplicação através de diagramas que exibem o fluxo do seu aplicativo, as telas que devem ser apresentadas ao usuário, quais serão os dados persistidos, sem nenhum código. Existe paletas de ícones para que seja montada a aplicação e os diagramas são mostrados por níveis de detalhamento. A plataforma não gera nenhum código, mas sim executa interpretando os arquivos do projeto (que são, na realidade, são arquivos XML). O servidor da Tersus são servlets que executam em algum servlet container, como o Tomcat. O projeto está armazenado no SourceForge.net e no próprio site da empresa. A Tersus já fechou projeto com grandes empresas e continua melhorando o produto. Acho que vale a pena uma avaliação melhor da comunidade Java com relação a essa iniciativa.

    Entrevista com Larry Augustin, CEO da MedSphere e fundador do SourceForge.net

    Nessa quarta-feira (03/08/2005) tivemos a oportunidade de ter uma breve conversa com Larry Augustin, CEO da Medsphere, membro do conselho de diretores da VA Software, e uma das mais famosas personalidades do mundo de código aberto. Em 1993, ele fundou a VA Software, criando o SourceForge.net, o maior repositório de projetos de código aberto da Internet, e a versão comercial SourceForge Enterprise Edition. Além dessas atividades, ele faz parte do Azure Capital Partners como um parceiro de capital de risco, investindo em empresas de tecnologia No mundo de software livre, a sua participação é notada em diversos projetos, como o Open Source Development Labs (OSDL), Linux International e o Free Standards Group, JBoss e SugarCRM. RC: O que faz a MedSphere? LA: A MedSphere provê um software para hospitais chamado VistA, juntamente com serviços de suporte para esse software. RC: Quais são as funcionalidades do VistA? LA: Ele provê o registro do paciente, evitando qualquer tipo de formulários em papel que normalmente são utilizados em hospitais. Dessa forma, em uma consulta, o médico terá o registro do paciente eletronicamente. Caso precise de um exame, como raio-X, ou um remédio na farmácia do hospital, tudo será eletrônico. RC: Vocês têm planos de fazer uma integração maior, como de todos os hospitais e farmácias e outras unidades de saúde de uma cidade, de tal modo que tudo seja eletrônico? LA: Esse plano ainda é muito ambicioso, temos um longo caminho até lá, mas nada nos impede. RC: O software ou as suas interfaces são de código aberto, possibilitando eventuais integrações com concorrentes ou outros software no futuro? LA: Sim, o nosso produto tem duas versões, uma de código aberto, baseada em um software desenvolvido inicialmente pelo governo americano, e outra versão profissional, com componentes mais avançados e com código fechado, que é vendida. A razão do software ser aberto é pelo fato de ele ter sido financiado pelo povo americano. Continuaremos a mantê-lo aberto e melhorá-lo. RC: Como é o modelo de negócios? De onde vem a receita da MedSphere? LA: Além da licença de software para a versão profissional, o modelo de negócios envolve instalação, treinamento, suporte e desenvolvimento de customizações para o software. RC: Qual é o mercado alvo principal da MedSphere? LA: O nosso mercado-alvo são pequenos e médios hospitais que, como os grandes, possuem necessidades de maior organização e gerenciamento dos seus registros e procedimentos médicos. Eles têm as mesmas necessidades, mas não tem a capacidade de adquirir sistemas existentes, com custos exorbitantes. Esse é o mercado principal que queremos atingir. RC: Existe planos de levar o Medsphere para países como o Brasil? LA: Sim, temos já algumas parcerias em alguns países e, em se tratando do Brasil, também já possuímos o plano de implementar em um hospital. RC: Conte-nos um pouco sobre as suas recentes atividades profissionais. LA: Antes de me unir ao MedSphere, eu me juntei a um grupo de investidores de capital de risco chamada Azure para investimento em empresas de tecnologia. RC: Como você vê a evolução dos modelos de negócio de código aberto, em particular tendo em vista o recente surgimento de empresas como a SpikeSource, Source Labs, Pentaho, muitas das quais não eram conhecidas no ano passado? LA: O que temos notado mais recentemente nos modelos de negócio de software proprietário é que o custo de vendas e marketing tem sido enorme e é o maior custo em uma empresa de software. Com o custo cada vez mais elevado para se vender, em face da existência de nova concorrência, que é o próprio software de código aberto, a receita obtida com a venda de licenças tem sido basicamente para cobrir os custos de vendas e marketing. Esse aspecto é curioso, pois chegamos à situação em que o cliente paga um determinado valor, usualmente grande, para ser convencido a comprar. Irônico, não? Dessa forma, o modelo de código aberto surge e é visto hoje como sendo a maneira de se reduzir, total ou parcialmente, esses custos, e a empresa de tecnologia focar os seus custos exatamente em tecnologia. Assim, todos ganham, pois o custo é diminuído para a empresa e para o cliente, que não paga mais para ser convencido a comprar. O cliente é convencido a comprar ao testar o produto na sua versão de código aberto. E a vantagem é que ele avalia o sistema muito mais profundamente antes de optar por ele. Além disso, pode ter contato com o seu desenvolvimento, problemas, opiniões, um contato muito maior e real com a qualidade do produto. A empresa de tecnologia também ganha pois o seu produto tem a capacidade de ser conhecido (sem o custo total inerente disso), inclusive em mercados onde a empresa não tem presença, como usualmente o mercado internacional. RC: Você acha que as aplicações de código aberto têm o poder de dar o respaldo a iniciativas governamentais como a do Brasil, onde computadores populares saem de fábrica com o Linux? Isso nos parece muito complicado em países onde a pirataria é dominante, logo o apelo de custo de licença não é muito forte para usuários finais. LA: Primeiro, deveria se parar de piratear o software. Em segundo lugar, o problema não é exatamente com o conjunto de funcionalidades, mas sim com a base instalada. Eu, particularmente, acho que a Microsoft está fazendo um tremendo erro ao não portar o Office para Linux. Ela está abrindo a possibilidade do OpenOffice tornar-se dominante nesse mercado e, dado que ele é multi-plataforma, isso pode se tornar um grande perigo no futuro. RC: Qual seria o tipo de finalidade para a qual sistemas operacionais de código aberto, como o Linux, estariam prontos? LA: Para finalidades específicas, eu vejo como ele estando pronto e não fazendo nenhuma diferença. Por exemplo, para a implementação do nosso software, onde o computador cliente tem a finalidade bastante específica de rodar somente o nosso software - e isso se aplica para qualquer outro - o Linux pode inclusive trazer imensas vantagens.

    Banco de Dados Ingres com o Código Aberto

    Hoje tivemos uma keynote na Open Source Convention 2005 com Tony Gaughan, Vice-Presidente Sênior da Computer Associates. Ele diz que a empresa se tornou mais competitiva ao abrir o código-fonte pois, entre outros, permite que haja uma avaliação melhor do seu projeto, já que está livre para ser obtido e instalado Como observamos ao longo de toda a convenção, os custos de vendas e distribuição acabam sendo diminuídos com o open source, e isso é algo que interessa para as empresas. Algumas questões como se abrir o código não era uma forma de se ver livre do suporte ao produto - que, por sinal, tem o seu código base datado dos anos 70 - foram levantadas e rapidamente repudiadas por Gaughan, que citou a existência de uma grande quantidade de desenvolvedores open-source, além do desafio de 1 milhão de dólares proposto pela CA para o Ingres. A questão que naturalmente fica é se realmente vai surgir alguma comunidade open source dando suporte a tais produtos. Mas a vantagem de se ter acesso ao código certamente é interessante para qualquer cliente, de forma a se diminuir o chamado "lock-in". Uma das questões também levantadas por Gaughan foi sobre licenças. A Mozilla Public License (MPL) é uma das preferidas por projetos open-source, como estamos observando aqui em Portland. Contudo, principalmente por estar associada a Mozilla Foundation em seus termos (e não ser uma licença genérica), ela acaba sendo copiada e mudada de nome para servir a empresa/produto a qual se relaciona. Além disso, a MPL não é uma licença internacional. Um exemplo desses é a Sugar Public License do Sugar CRM, baseada na MPL. A sugestão de Gaughan é que tenhamos licenças modelos (template licenses) e que existam licenças internacionais. Ponto interessante. Só para contar, a licença da CA para o Ingres é baseada na Open Source License e se chama CA Trusted Open Source License e é certificada pela Open Source Initiative. Baseado em avaliação feita em sessão aqui na OSCon sobre o estado dos bancos de dados (e não em uma avaliação técnica mais profunda), o Ingres parece estar em um estado bastante maduro, dando-nos a impressão de ser mais robusto do que o MySQL, que foi apresentado pelos seus fundadores. O Ingres foi disponibilizado em código aberto em Agosto de 2004.

    04 agosto 2005

    GPL, LGPL, ML, etc... Como gerenciar tudo isso?

    Como saber se sua empresa está usando código-aberto de acordo com os termos da licença que rege o mesmo? Como saber se o código que seus desenvolvedores embutiram em sua aplicação proprietária pode realmente ser embutido? Como saber se todas as licenças de código-aberto estão sendo respeitadas na sua empresa e evitar um processo, nos moldes que a SCO moveu contra a IBM? Basta olha para a Black Duck. Acabo de conversar com Paul Henderson, VP de Marketing da Black Duck Software. A Black Duck tem um conjunto de aplicações que permite empresas analisarem seus códigos-fonte e descobrirem se os mesmos infringem algum tipo de direito autoral ou licença de código-aberto, como GPL, LGPL, entre outras. Interessantíssimo. Funciona assim: os desenvolvedores submetem seus códigos a um servidor que possui um repositório de milhões de linhas de código de vários projetos código-aberto. O servidor compara os códigos submetidos com seu repositório para ver se os mesmos estão de acordo com as respectivas licenças. Esses códigos recebem uma "assinatura digital" e mesmo que um código seja alterado, o sistema é capaz de detetar se há semelhanças suficientes para suportar uma alegação que houve quebra de direitos autorais. O sistema chega inclusive a mostrar qual cláusula do contrato de licença o código está infringindo. Por enquanto o sistema analisa apenas código-fonte, mas já está sendo preparado para analisar código binário. Quando isso acontecer empresas poderão comparar seus códigos contra de seus concorrentes e checar se houve "roubo" de código.

    OSoft ThoutReader, uma nova maneira de organizar sua biblioteca.

    Uma das pequenas empresas que está chamando a atenção dos participantes da OSCON é uma empresa chamada OSoft. Ela criou uma aplicação em Java, chamada ThoutReader. Ela permite que você combine livros e documentação e trate-os como se fossem uma coisa só, ou seja, você pode fazer busca, anotações e compartilhar conteúdo com outros desenvolvedores. Com pouco mais de dois anos, a empresa tem a difícil tarefa de enfrentar gigantes desse mercado, como a Adobe com seu PDF. Mas aqui a aposta é que o ThoutReader irá conquistar seu espaço no mercado. É open source, fácil de usar e já tem uma série de livros disponíveis, tais como toda a biblioteca do PHP, Samba, Perl e Python. O melhor: totalmente gratuitos.

    Macintoshes everywhere...

    Impressionante a quantidade de Macs que vimos o pessoal de open source usar aqui no evento. Para cada 10 máquinas, 6 são Macs portáteis.

    Entrevista com Byron Sebastian, CEO e Fundador da SourceLabs

    ER: O que é a SourceLabs? BS: A SourceLabs é uma empresa que tem como missão é facilitar o a adoção de do software livre, através da oferta de serviços de suporte e manutenção das diversas pilhas que compõe o mundo de software, principalmente as pilhas de bancos de dados e middleware. Acabamos de anunciar, também, o suporte a aplicações Java. ER: Que tipo de clientes vocês têm? BS: Basicamente são empresas que querem diminuir os custos de suporte de software e que já tenham adotado o software livre como sua base de desenvolvimento e apoio. Um dos principais clientes é a Merrill Lynch. ER: Fale-nos um pouco de como você lançou a SourceLabs. BS: Sou bio-químico, vivi dois anos em Praga, República Tcheca, trabalhei na Amazon e fiquei um tempo na Microsoft como terceirizado. Montei meu primeiro start-up que foi vendido para a BEA, onde permaneci 3 anos como VP de dois produtos, WebLogic Portal e WebLogic Workshop. Depois disso resolvi conversar com clientes sobre como eles pretendiam adotar software livre e quais dificuldades os mesmos encontravam. Disso surgiu a idéia de montar uma empresa que os ajudasse nessa tarefa. Preparei um plano e apresentei para alguns investidores, entre eles o Brad Silverberg, ex-vice-presidente da Microsoft. E aqui estamos. ER: Como conseguiu que o Bruce Perens fosse trabalhar para você? BS: Foi interessante. Conversei com o Bruce sobre o projeto e após duas ras ele me disse: "Você é do Bem. Você não é o Mal (leia-se Microsoft). Portanto eu topo" (risos). ER: Alguma coisa que queira dizer para o público internacional do mundo do software livre. BS: Não esperem os EUA. Deixe a comunidade internacional continuar a liderar o mundo do open source.

    03 agosto 2005

    O congresso começou...

    Começa o principal show do congresso, com mais de 2000 participantes.

    Portland é uma cidade no estado de Oregon, logo acima da Califórnia e logo abaixo de Washington, sede da Microsoft. Lá as maiores cabeças pensantes do mundo do software livre se reunem para discutir o presente e o futuro dessa indústria.

    Open source e as empresas

    Estamos nesse momento presenciando uma discussão interessante entre Byron Sebastian, da SourceLabs, Dan Woods, da O'Reilly, e Robert Sutor, da IBM, sobre o mundo do open source nas empresas. O principal ponto, se eu posso resumir, é que no mundo de open source ainda falta alguém (leia-se empresas) que assuma as responsabilidades se algo der errado em uma implementação open source em empresas. Ou seja, muitos dos contratos assinados com as empresas tradicionais têm muito mais a ver com assumir "a bronca" do que trazer benefícios. Vindo do mundo tradicional, eu tendo a concordar.